Retrospectiva 2014: Aberta a Caixa de Pandora da Petrobras e Dilma vence uma eleição marcada por ataques, tragédia e poucas propostas

Começa a Retrospectiva 2014, o resumo dos principais fatos do ano que está terminando. E como sempre começamos falando de política que este ano viu mais um escândalo de corrupção minando mais uma estatal e uma eleição pra lá de acirrada.

Fim de uma era no Supremo


Joaquim Barbosa deixa o STF depois de 11 anos intensos

Depois de mais de dez anos de polêmicas Joaquim Barbosa deixou em maio o Supremo Tribunal Federal. Desde sua indicação feita em 2003 pelo ex- presidente Lula Joaquim Barbosa imprimiu um estilo marcado por polêmicas e discussões que viraram assunto constante na mídia. Ao mesmo tempo também foi considerado um herói, tudo porque foi ele que conduziu com brilhantismo e maestria o julgamento da Ação 470, o popular julgamento do Mensalão que colocou políticos na cadeia. Graças à sua atuação ganhou visibilidade na mídia e haviam quem apostasse que ele seria candidato nesta eleição.

Enquanto isso...


José Dirceu e José Genoíno poderão sair em pouco tempo da cadeia

Um ano depois de serem presos os mensaleiros terminam o ano praticamente fora da cadeia graças à uma série de manobras jurídicas. A primeira delas, em fevereiro acabou aceitando apelações de oito dos 25 réus, dentre eles José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares que foram inocentados da acusação de formação de quadrilha assim como Marcos Valério, o operador do esquema que teve sua pena de 40 anos reduzida para 38 anos e três meses. Ainda em fevereiro o ex- diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato escapou de ser extraditado. Ele que havia sido condenado em outubro de 2013 foi preso na Itália, acusado de entrar ilegalmente no país e de ter usado passaporte falso. A justiça brasileira pediu a extradição, mas a justiça italiana não aceitou o pedido e Pizzolato permanece na Itália. A justiça brasileira ainda concedeu progressão de pena para os mensaleiros, o que isso significa: significa que o preso pode trabalhar de dia e dormir na cadeia. Mais uma vez José Dirceu, Delúbio Soares e cia limitada ganharam o tão sonhado benefício, só que Dirceu tentou obter autorização para viajar à trabalho em São Paulo, só que não teve êxito.

FATO DO ANO I: Uma eleição como nunca se viu.

O Brasil foi às urnas este ano para escolher seus representantes. Foi uma disputa tensa, acirrada e no fim o PT conseguiu à duras penas reeleger Dilma Rousseff.

A Campanha em sete atos:

1º ato - Liderança tranquila e candidaturas lançadas

As primeiras pesquisas de opinião no começo do ano deram indícios de que a reeleição de Dilma seria tranquila, chegando a atingir 20 pontos porcentuais sobre Aécio Neves. Entre maio e junho a campanha começava a tomar forma com o lançamento das candidaturas dos principais candidatos à Presidência. Em 6 de julho a campanha começava oficialmente e Dilma, Aécio e Eduardo Campos iniciavam a caça aos votos.

2º ato - Uma tragédia no meio da campanha mata Eduardo Campos e abala o país




Avião cai e mata Eduardo Campos privando o país de um futuro líder político que tinha um grande potencial

Eduardo Campos vinha em terceiro lugar em todas as pesquisas eleitorais e no dia 13 de agosto iria para mais compromissos de campanha, ainda mais depois de um grande desempenho na sabatina que havia feito para o Jornal Nacional. Na despedida o então candidato do PSB entoou o lema que viraria uma marca: Não vamos desistir do Brasil. Naquela manhã de quarta feira ele iria para Guarujá no litoral paulista onde iria para mais compromissos de campanha. Junto de seu staff partiu confiante, mas o avião em que viajava, um modelo Cessna não conseguiu realizar a aterrissagem no aeroporto. Foi então que a tragédia se desencadeou. O avião fez uma arremetida, sobrevoou a cidade de Santos, mas inexplicavelmente o avião perdeu altitude e caiu em um bairro residencial. O impacto da explosão da aeronave foi ouvido à quilômetros de distância. Campos e mais seis pessoas morreram. Terminava ali de forma precoce e trágica uma trajetória promissora e ascendente. Aos 49 anos que haviam sido completados no dia 10, Eduardo Campos desapareceu no mesmo dia da morte de Miguel Arraes em 2005. Em sua carreira política foi deputado estadual, deputado federal, ministro da Ciência e Tecnologia no primeiro mandato do ex- presidente Lula e por duas vezes governador de Pernambuco. Ano passado deixou a base aliada para se tornar o candidato do partido na chapa com Marina Silva. A morte precoce tirou pra sempre um potencial candidato á Presidente nos próximos anos. Recife parou para se despedir de Eduardo Campos. As ruas da capital pernambucana ficaram lotadas para ver o cortejo do caixão até o Palácio Campos das Princesas. Os filhos e a viúva Renata vestiram camisas amarelas com o lema Não vamos desistir do Brasil. Ao todo 160 mil pessoas estiveram nas ruas do Recife para se despedir de Eduardo Campos que foi sepultado junto de Miguel Arraes sob queima de fogos e gritos de guerra.

3º ato - O fator Marina


Marina Silva assumiu a chapa e logo subiu nas pesquisas, mas depois perdeu fôlego e ficou de fora do segundo turno

A morte precoce de Eduardo Campos catapultou Marina Silva à nova cabeça de chapa do PSB tendo Beto Albuquerque como seu candidato à vice. E com isso deu um novo fôlego à campanha que até então parecia morna. Marina Silva apostava na Nova Política, subiu nas pesquisas e chegou a estar tecnicamente empatada e cogitar uma vitória em segundo turno contra Dilma Rousseff, mas aí entrou em cena a máquina de moer candidato do PT.

4º ato - Campanha baixa o nível


Candidatos no último debate do primeiro turno na Globo: faltou propostas, sobrou ataques mútuos

A subida de Marina nas pesquisas incomodou o PT e Dilma e o partido resolveram colocar em prática a máquina de moer candidato. Nos debates as trocas de acusações foram intensas e as propostas ficaram um pouco de lado. O terrorismo petista prosseguiu no horário eleitoral gratuito espalhando a tática do medo. Nos programas da candidata Dilma chegaram a comparar Marina com Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, que sequer concluíram seus mandatos. Em uma outra ocasião o programa de Dilma afirmava que a independência do Banco Central causaria miséria caso Marina fosse eleita. A tática destruiu a candidatura de Marina que nos debates foi alvo fácil dos ataques de Dilma. e ainda teve acusações de que ela e Lula não se entendiam. Os debates também deram oportunidade aos nanicos aparecerem. Sem muito destaque na campanha os nanicos ganharam as redes sociais, dentre eles Eduardo Jorge do PV, Luciana Genro do PSOL e Levy Fidélix que num dos debates do primeiro turno na Rede Record protagonizou uma das polêmicas desta campanha ao fazer declarações sobre o aparelho excretor.

5º ato - Aécio volta ao jogo


Aécio virou o jogo e conseguiu uma reação brilhante para ir ao segundo turno

O tucano Aécio Neves parecia perdido em meio ao tiroteio verbal das candidatas e ainda mais atolado nas denúncias publicadas pela imprensa sobre a construção irregular do aeroporto de Cláudio, sua candidatura não decolava e ele parecia derrotado em pleno primeiro turno, mas a queda de Marina Silva nos últimos dias antes do primeiro turno deram um novo fôlego e ele virou o jogo, ultrapassou Marina e levou a eleição para o segundo turno. Marina obteve 22 milhões de votos ficando em terceiro lugar. Diferente de 2010 ela foi o fiel da balança no segundo turno e declarou seu apoio à Aécio Neves.

6º ato - O nível segue baixo


Aécio e Dilma no último debate do segundo turno

Assim como no primeiro turno o clima esquentou nos debates do segundo turno. Dilma e Aécio partiram para o confronto de denúncias de irregularidades nos governos de PT e PSDB e um acusava o outro. O ritmo intenso da campanha e dos debates acabou causando um mal estar na candidata petista após o debate no SBT. Às vésperas do segundo turno uma bomba estoura na campanha quando a revista Veja divulga matéria de capa com o depoimento do doleiro Alberto Yousseff apontando que tanto Lula quanto Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobras. No último debate na Globo Aécio tentou fustigar Dilma sobre o Petrolão, mas foi em vão.

7º ato - E DEU DILMA DE NOVO!



Sentimentos opostos depois do resultado das urnas: Enquanto Aécio reconhecia a derrota, Dilma comemorava ao lado de Lula e dos aliados a difícil vitória

No dia 26 de outubro o Brasil foi às urnas para escolher entre Dilma que tentava se reeleger ou Aécio Neves. Depois que as urnas foram fechadas às 5 da tarde o suspense e o clima aumentou. A partir dali o TSE não divulgou o resultado. Três horas depois o site do TSE divulga os primeiros números que apontavam Dilma na frente e quando foi ás 20:30 daquele domingo o TSE proclamava Dilma Rousseff reeleita. A vitória da petista se deu graças à maciça votação registrada na Região Nordeste e a união de vários setores esquerdistas. Foi uma vitória apertada, com mais de 51% dos votos ou 54 milhões de votos contra 48% de Aécio que obteve mais de 51 milhões de votos. Foi a mais acirrada disputa eleitoral desde 1989 quando os brasileiros puderam voltar a escolher o presidente através do voto.


Logo após a eleição Aécio Neves voltou ao Senado e desferiu uma carga de discursos pesados e ataques fortíssimos em relação ao Petrolão. Ele promete uma oposição ferrenha, como nunca havia acontecido nos 16 anos de governo do PT.

O novo mapa político do Brasil

As eleições de outubro apontaram um novo mapa político principalmente no Congresso Nacional onde Dilma seguirá tendo maioria tanto no Senado como na Câmara dos Deputados com o PT tendo a maior bancada no número de deputados federais com 70 cadeiras, já no Senado o PMDB terá mais senadores na bancada com 19 senadores.





Pezão levou a melhor no Rio de Janeiro, Sartori foi a grande surpresa da eleição no Rio Grande do Sul, Perillo vence pela quarta vez em Goiás e Alckmin conduz o PSDB a 20 anos de poder no Palácio dos Bandeirantes

Já entre os governadores o PMDB foi o que mais elegeu: sete estados serão governados pelos peemedebistas que vão comandar colégios eleitorais importantes como Rio de Janeiro onde foi eleito Luiz Fernando Pezão e Rio Grande do Sul. Mais uma vez o estado manteve a tradição de não reeleger governadores e a grande surpresa da eleição foi José Ivo Sartori que saiu do terceiro lugar nas pesquisas para vencer Tarso Genro. PT e PSDB elegeram cinco governadores cada um. O partido governista conquistou vitórias no Ceará com Camilo Santana interrompendo a hegemonia da família Gomes e em Minas Gerais com Fernando Pimentel impondo uma grande derrota para Aécio Neves. Já os tucanos reelegeram Marconi Perillo em Goiás e em São Paulo o partido vai para seu sexto mandato seguido, pois Geraldo Alckmin foi reeleito em primeiro turno. O PSB por sua vez elegeu três governadores e se destacou.

Brasília é de Rodrigo Rollemberg


Rodrigo Rollemberg saiu de azarão para vencer a eleição e herdar um enorme abacaxi que Agnelo vai deixar

A eleição para o GDF foi repleta de surpresas e no final o azarão chegou lá. Quando tudo parecia caminhar para a eleição de José Roberto Arruda, quem sorriu no fim foi Rodrigo Rollemberg, do PSB. A campanha em si foi marcada por uma reviravolta a menos de 20 dias da eleição. O então candidato José Roberto Arruda vinha liderando as pesquisas, mas o TSE e a Justiça decidiram barrar sua candidatura, baseado na Lei da Ficha Limpa. Arruda renunciou ao mandato e foi preso em 2010 pelo envolvimento no Mensalão do DEM. Depois de perder as guerras jurídicas ele renuncia à candidatura e quem assume a cabeça de chapa é Jofran Frejat e a mulher de Arruda, Flávia passa para vice. No primeiro turno Rollemberg vence e Jofran Frejat consegue uma boa votação para ir ao segundo turno deixando de fora o atual governador Agnelo Queiroz que paga o preço alto dos índices maciços de rejeição ao seu governo e o PT que sempre se caracterizou por uma forte militãncia amarga uma derrota dolorosa. No segundo turno o candidato Frejat lança uma proposta pra lá de polêmica, a Tarifa de 1 real no transporte coletivo. A proposta é considerada eleitoreira e o tiro saiu pela culatra. Rodrigo Rollemberg se elegeu com mais de 800 mil votos e vai herdar um estado de caos que tomou conta da cidade no começo de dezembro com salários atrasados e serviços essenciais parados. Para o Senado foi eleito José Antônio Reguffe do PDT. Alberto Fraga do DEM foi o deputado federal mais votado e o Pastor Júlio César foi o deputado distrital mais votado, aliás a Cãmara Distrital terá uma renovação de 50% no seu quadro com 12 distritais sendo eleitos e que vão estar na nova legislatura.

FATO DO ANO II - Uma mancha negra na vida da Petrobras

Pra quem pensava que o Mensalão era o maior escândalo político dos últimos anos em 2014 se espantaram ainda mais com a descoberta de um gigantesco esquema de corrupção que contaminou a Petrobras.



Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff: principais personagens de um escândalo que corrompeu a Petrobras

Tudo começou no dia 17 de março quando a Operação Lava Jato da Polícia Federal realizou uma série de prisões. Investigações apontavam que havia um esquema de corrupção com evasão de divisas e lavagem de dinheiro. O montante levantado era de US$ 10 bilhões e a Polícia apontava que os dirigentes da estatal recebiam propinas para firmar contratos superfaturados com empresas, em especial empreiteiras. Foram presos o ex- diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa que foi flagrado queimando provas, o doleiro Alberto Yousseff, apontado como o chefe da quadrilha e outras pessoas. Em abril o então deputado André Vargas foi flagrado em conversas telefônicas com Yousseff na elaboração de contratos fraudulentos com o Ministério da Saúde e entrou em desgraça: foi expulso do PT e teve o mandato cassado em dezembro. Uma CPI foi criada no Congresso e Alberto Yousseff apontou a participação de partidos como o PT, PP e PMDB como beneficiários do esquema.

A delação que mudou a história do escândalo

Na segunda quinzena de agosto Paulo Roberto Costa resolveu abrir a boca ao detalhar minuciosamente como funcionava o esquema dando o nome de políticos e outros figurões, tudo isso com o objetivo de sair da prisão no esquema de delação premiada. Assim como Paulo Roberto Costa, Alberto Yousseff resolve colaborar com a investigação. Às vésperas do segundo turno das eleições a revista Veja antecipa sua edição semanal e traz matéria de capa em que Yousseff afirmava no depoimento que tanto Lula como Dilma sabiam do esquema e nada puderam fazer. A divulgação da reportagem cai como uma bomba e houve protesto na sede da revista que foi alvo de vandalismo por parte de grupos políticos.



Renato Duque foi um dos 85 presos pela Operação Lava Jato que foi explicada de forma minuciosa pela procuradoria geral da República

Em 14 de novembro a PF realiza uma mega operação que resulta na prisão de 85 pessoas envolvidas no esquema, dentre elas 21 executivos, três presidentes de empresas dentre elas a Odebrecht e o ex- diretor Renato Duque, considerado o elo do PT no esquema. O juiz Sérgio Moro autorizou a ordem de prisão. No dia 27 de novembro Paulo Roberto Costa entrega comprovantes de depósitos feitos para Fernando Baiano, considerado um dos operadores do esquema a serviço do PMDB onde ele fazia a lavagem de dinheiro para integrantes do partido. A investigação chegou até o exterior onde foram descobertas cinco contas movimentadas no nome de Paulo Roberto Costa no valor de US$ 126 milhões em depósitos. No começo de dezembro 36 pessoas são denunciadas pela Procuradoria Geral da República e a ex- gerente Venina Velosa confessa que enviou e- mails alertando a  Dilma e Graça Foster, a presidente da estatal sobre o esquema. E as investigações vão prosseguir em 2015. E Dilma terá uma enorme dor de cabeça pela frente.

Verdade que vem à tona


Dilma se emociona e chora durante cerimônia que aprovou o relatório da Comissão da Verdade

A Comissão Nacional Da Verdade divulga em dezembro relatório final depois de mais de dois anos de trabalho e apontou 377 pessoas culpadas por abusos e violação dos direitos humanos. Além disso o relatório aponta que 434 pessoas foram vítimas do estado e nem a anistia aprovada em 1979 impedirá os acusados de serem processados. A presidenta Dilma Rousseff chorou na cerimônia, pois ela foi torturada no começo dos anos 70. Para os militares e as Forças Armadas o documento é considerado um equívoco.

A retrospectiva prossegue nesta terça com os destaques da economia.

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1 Comentários

Anônimo disse…
O ano fica marcado pela polarização na eleição presidencial e pela divisão política do país, evidenciada pelas redes sociais. As redes, aliás, foram peças importantes de posicionamento político. Pena que muitos a usaram para brigar. Foi tenso... rs! Abraço!
André San - www.tele-visao.zip.net