Retrospectiva 2012: O ano em que a esperança derrotou a impunidade

Começa a Retrospectiva 2012. O resumo dos principais fatos do ano que está terminando. Pra começar, os destaques da política. 2012 entra pra história como o ano em que a impunidade começou a cair. O julgamento do mensalão mobilizou a sociedade mostrando que é possível acabar com a corrupção. O ano político teve ainda as peripécias de um contraventor que causou rebuliço e a festa da democracia com as eleições municipais.

Um Cachoeira que incomodou muita gente

Carlinhos Cachoeira foi preso duas vezes e CPI apurou esquema de corrupção e jogatina ilegal em Goiás

O contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira foi o centro das atenções no ano de 2012. Cachoeira foi preso em 29 de fevereiro na Operação Monte Carlo da PF que investigou uma quadrilha de empresários e agentes públicos que praticavam a jogatina ilegal e tráfico de influência. A investigação policial revelou um grande esquema de corrupção com autoridades e empresas. Em abril foi instalada a CPMI do Congresso para investigar as denúncias de corrupção. A CPI apontou vários nomes envolvidos: O dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, os governadores Agnelo Queiroz e Marconi Perillo e o senador Demóstenes Torres.

O relatório final do deputado Odir Cunha (PT - MG) ainda não foi aprovado, mas 40 pessoas envolvidas no escândalo foram indiciadas, dentre eles o jornalista Policarpo Júnior, da sucursal da revista Veja, mas seu nome foi retirado, do procurador geral Roberto Gurgel e do governador Agnelo. Nos depoimentos à CPI, Agnelo abriu seu sigilo pessoal e bancário para a CPI. Em novembro, o bicheiro foi solto já que havia sido condenado a 5 anos de prisão pela Operação Saint Michel, mas no dia 7 de dezembro voltou a ser preso pois foi condenado a 39 anos de prisão.

Na CPI do Cachoeira, duas mulheres foram destaque. Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira esteve ao lado do marido, mesmo acusada de suborno, já Denise Rocha teve seus 15 minutos de fama ao posar nua para uma revista masculina e ficou conhecida como o Furacão da CPI.

A queda de um baluarte da ética mentirosa

Nem a força na peruca salvou o mandato de Demóstenes Torres que foi cassado e fica inelegível até 2027

O senador Demóstenes Torres se tornou o segundo senador da história a perder o mandato. Demóstenes foi cassado pelos seus colegas pela sua ligação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Seu mandato foi usado para atender os interesses de Carlinhos Cachoeira e no dia 11 de julho, por 56 votos a favor e 19 contra, Demóstenes Torres foi cassado por quebra de decoro parlamentar e ficará inelegível até 2027.

Ficha Limpa é aprovada

Manifestantes comemoram a aprovação da Ficha Limpa, um marco na legislação eleitoral brasileira

Depois de três anos, a Lei da Ficha Limpa é aprovada em 16 de fevereiro pelo STF. Por 7 votos a favor e 4 contra, os ministros decidiram que a lei é constitucional e impede políticos condenados em processos e que renunciaram a seus mandatos para evitar a cassação ficam impedidos de disputar as eleições por oito anos. A decisão foi tomada dois anos depois que a lei entrou em vigor e valeu para as eleições municipais deste ano.

Renovação política marca eleição municipal

O país foi às urnas em outubro para escolher os novos prefeitos em mais de 5 mil e quinhentos municípios. Nas 26 capitais, 17 tiveram seus prefeitos eleitos em primeiro turno, as outras nove no segundo turno. O PSB, partido do governador de Pernambuco Eduardo Campos foi o partido que mais cresceu ao eleger 442 prefeitos, 132 a mais que em 2008. O PSD de Gilberto Kassab se tornou a quarta força política em menos de dois anos de existência. O PT, partido do governo ficou com 622 prefeituras. O PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos: 1022 prefeitos e o PSDB ficou com 701.

Eduardo Paes e Márcio Lacerda se reelegeram com folga no Rio e em Belo Horizonte logo no primeiro turno

Nas principais capitais tivemos prefeitos sendo reeleitos. Em Belo Horizonte, Márcio Lacerda do PSB foi reeleito em primeiro turno facilmente, assim como Eduardo Paes no Rio de Janeiro. Paes conquistou 64% dos votos vencendo fácil. Na Bahia, o carlismo está de volta com a eleição de ACM Neto do DEM, em Recife, Geraldo Júlio, apoiado por Eduardo Campos levou a prefeitura do Recife no primeiro turno. Em Porto Alegre José Fortunatti do PDT levou a eleição no primeiro turno.

Fernando Haddad foi a aposta de Lula e venceu uma eleição disputada em São Paulo

A eleição em São Paulo chamou a atenção do país por polarizar mais uma vez a disputa entre PT e PSDB. A aposta do PT foi Fernando Haddad, ex-ministro da educação e neófito em eleições, uma aposta do ex- presidente Lula. No lado tucano, a aposta foi em José Serra. Nas primeiras pesquisas, no começo do ano Haddad não passava de 3% dos votos e Serra liderava. Em junho, Lula sela aliança com o PP de Paulo Maluf gerando revolta em Luiza Erundina que abandonou a chapa pois era candidata a vice e em seu lugar entrou Nádia Campeão, do PC do B. Quando a campanha começou, Haddad começou a subir. Quando começou o horário eleitoral, o candidato do PRB Celso Russomanno assumiu a dianteira nas pesquisas, mas na reta final perde fôlego. No primeiro turno, Serra e Haddad avançam enquanto Russomanno ficava de fora. No segundo turno os dois candidatos se atacaram mutuamente mas o petista se desvencilhou do julgamento do mensalão e foi eleito. Depois de oito anos o PT volta a governar a maior cidade do país, pois foi a vitória de um poste indicado por Lula. Para José Serra, a derrota significa pelo menos o fim da carreira, já que Aécio Neves se credencia para ser o candidato tucano nas eleições de 2014.

Popularidade nas alturas

Dilma Rousseff segue com boa confiança da população fazendo um bom governo

Mesmo com a economia crescendo pouco, Dilma Rousseff tem a confiança de 62% dos brasileiros. Com um estilo distinto de governar, a presidenta soube separar governo do partido, enquanto o PT se complica, Dilma faz um governo sério não perdoando falhas. Em maio reuniu ex- presidentes para criar a Comissão da Verdade, vetou parte dos itens do Código Florestal e da lei dos royalties do petróleo.

FATO DO ANO: A QUEDA DOS MENSALEIROS

Ministros julgaram e condenaram 25 réus, entre eles José Dirceu, o cabeça do esquema que ficará dez anos na cadeia em regime fechado

Um julgamento pra história: Assim o Brasil acompanhou o julgamento dos envolvidos no escândalo do mensalão. O escândalo que envolveu o Partido dos Trabalhadores acabou se transformando em um monumento à corrupção. Os ministros do STF fizeram sessões acaloradas e confirmaram as suspeitas de que um grupo político comprou apoio parlamentar no Congresso Nacional. José Dirceu, Marcos Valério, Delúbio Soares, José Genoíno e cia foram condenados. Dos 38 réus, apenas Sílvio Pereira escapou de ser punido, assim como Luís Gushiken por falta de provas. José Dirceu pegou 10 anos e 10 meses de prisão e cumprirá a pena em regime fechado, Delúbio pegou oito anos, João Paulo Cunha pegou nove anos e Marcos Valério pegou 40 anos. Valério resolveu ameaçar e contar o que sabe inclusive delatando o envolvimento de Lula que segundo Valério avalizou o mensalão e suas despesas pessoais foram pagas com dinheiro do valerioduto. Dirceu foi condenado pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, além de multa de R$ 676 mil. Roberto Jefferson, o delator do escândalo foi condenado a 7 anos em regime semiaberto. O STF ainda julga as perdas de mandatos, mas sua conclusão poderá ser adiada pro começo de 2013, pois falta apenas o voto do ministro Celso de Mello.

Personagem do ano: JOAQUIM BARBOSA

Conduzindo com maestria os trabalhos, Joaquim Barbosa, vindo de família pobre deu ao Brasil lições de ética e dignidade. Relator do caso, Joaquim Barbosa foi enfático nas suas considerações e graças a sua atuação firme no julgamento foi considerado pela maioria da sociedade um herói nacional. Quando assumiu a relatoria do caso em 2007 o ministro abraçou a causa, mas em 2012 se transformou em paladino da justiça contra a corrupção e em novembro se tornou o primeiro negro a assumir a presidência do STF substituindo Carlos Ayres Britto.

Mais um escândalo na conta do PT

Rosemary Noronha comandava o esquema de venda de pareceres

No final de novembro, a Operação Porto Seguro da Polícia Federal desbaratou um esquema de corrupção e venda de pareceres ilegais. No comando do esquema estava Rosemary Noronha, que era chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. Outros envolvidos foram os irmãos Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional das Águas e Rubens Vieira que era diretor da Agência Nacional de Aviação Civil. O Ministério Público indiciou 24 pessoas envolvidas no esquema por formação de quadrilha.

A Retrospectiva prossegue na segunda com os destaques da economia.